Hal
Wildson
Série: Reflorestar o Imaginário
Reflorestar o Imaginário
A série de Ações "Reflorestar o Imaginário", surge através de uma pesquisa extensa sobre a história recente de ocupação do centro do Brasil e aos projetos de invasão iniciados em 1500, desdobrando as questões sobre o território e a construção do imaginário coletivo. Iniciada em 2020, essa pesquisa se revela como um convite provocativo para repensar não apenas o presente, mas também nossas relações com o passado e o futuro.
O cerne dessa proposta simbólica reside na metáfora do "reflorestamento". Wildson nos desafia a enxergar o processo de resgate e revitalização do imaginário brasileiro como uma forma de confronto direto com as estruturas de poder e os sistemas de conhecimento que foram historicamente impostos pela colonização. Nesse sentido, o ato de reflorestar não é apenas uma ação estética, mas um gesto político e epistemológico que visa desmantelar as hierarquias e hegemonias culturais que ainda moldam nossa sociedade.
As obras resultantes dessa série de ações, que se materializam em fotografias e videoartes, funcionam como dispositivos de provocação e questionamento. Hal Wildson nos convida a mergulhar nas profundezas do nosso próprio imaginário coletivo, a fim de desenterrar narrativas ancestrais que foram silenciadas e marginalizadas ao longo dos séculos de dominação colonial. Ao mesmo tempo, ele nos incita a desafiar os projetos de poder baseados em violência e apagamento que continuam a permear nossas estruturas sociais e políticas.
Ao reflorestar o imaginário brasileiro, portanto, estamos engajados em um ato de resistência e transformação. Estamos reflorestando um território devastado pela colonialidade, reconhecendo e celebrando a diversidade de saberes e experiências que compõem as nossas singularidade. Mais do que isso, estamos pavimentando o caminho para uma sociedade mais inclusiva, equitativa e justa, desviando da armadilha da utopia inalcançável e construindo uma “Re-Utopya”.

Fotografia derivada do Videoarte (Monumento à terra) Gravado em 2021 na cidade de São Sebastião - SP.

Fotografia derivada do Videoarte (Monumento à terra) Gravado em 2021 na cidade de São Sebastião - SP.
Reflorestar Nossa Gente
A bandeira Re-Utopya, bordada em cetim, é hasteada por Hal Wildson no tronco de uma árvore no Parque da Independência. Esse local, simbolicamente marcado como o palco da proclamação da independência, torna-se o cenário para uma intervenção artística carregada de significado.
A imagem capturada focaliza a bandeira ondulando ao vento em contraste com a paisagem desfocada ao fundo, enquanto vozes ao redor do artista, captadas em um ambiente doméstico, discorrem sobre sonhos e utopias, temas de um Brasil que enfrenta as consequências de uma pandemia diante um governo de extrema direita. A utopia pessoal do artista, projetada e refletida nas falas do outro, torna-se um canal para reviver uma utopia coletiva, enraizada ancestralmente e vitalmente necessária nos dias atuais.
A concepção da bandeira Re-Utopya é fruto de um desdobramento de um sonho vivido por Hal Wildson durante sua residência em são sebastião, no período de isolamento imposto pela pandemia. Nesse contexto, o artista mergulha em reflexões sobre temporalidade, memória e projeções de futuro, encontrando na criação dessa bandeira um canal para expressar e materializar essas reflexões.
A ideia por trás da Re-Utopya ressoa profundamente com os desafios enfrentados pelo Brasil, especialmente em relação ao desmatamento e à degradação ambiental. Ao projetar essa bandeira, Wildson não apenas reage criticamente ao histórico de desmatamento desde os tempos coloniais, mas também denuncia as práticas contemporâneas de destruição ambiental promovidas pela expansão do agronegócio e da mineração.
Assim, a bandeira Re-Utopya emerge como um símbolo poderoso de resistência, memória e esperança, enraizada na interseção entre o passado, o presente e o futuro, e convida-nos a refletir sobre os caminhos possíveis para a construção de um mundo mais sustentável, justo e igualitário
Re-Florestar Nossa Gente
2022
Vídeo arte [Video art]
8’24”

Registro de Videoperformance Gravado em 2024 na Região da "Costa do Descobrimento" no sul da Bahia.


Registro de Videoperformance Gravado em 2024 na Região da "Costa do Descobrimento" no sul da Bahia.
Refloresta Imaginada
Desdobramento da ação "Reflorestar nossa gente", realizada em 2021 no Parque da Independência em São Paulo, local histórico onde a independência do Brasil foi proclamada, a Ação intitulada "Utopya: Refloresta Imaginada" aconteceu na “Costa do Descobrimento” sul da Bahia em 2024. O artista hasteia a bandeira "Re-Utopya" em uma muda de árvore nativa da mata atlântica, a pindaíba, de cerca de três metros, navegando pelo Rio Caraíva, na Bahia, em uma canoa esculpida de um único tronco do Piquiá amazônico.
À medida que a muda de árvore navega pelas águas do rio, prestes a desembocar no Oceano Atlântico, o cenário evoca a calma serena do curso do rio até alcançar a icônica Costa do Descobrimento, local marcado pela chegada e invasão portuguesa em 1500.
O termo "Re-Utopya" ecoa a ideia de reconstrução, reescrita, a reinvenção de uma utopia mitológica e inalcansável. É a aspiração por reinventar o Brasil em direção a um lugar mais justo para todos. Distanciando-se de uma utopia que habita um "n'~ao-lugar", a Re-Utopya representa a construção de uma ponte no presente, enraizada no poder da ancestralidade e fortalecida pela memória coletiva. É uma luta pelo poder simbólico, pelo poder das narrativas, pela capacidade de erguer uma bandeira que represente um projeto mais justo e inclusivo de nação.

Registro videoarte Gravado no Sul da Bahia, região da "Costa do Descobrimento".



Registro videoarte Gravado no Sul da Bahia, região da "Costa do Descobrimento".
Bienal das Amazônias
Em 2023 Hal Wildson realizou um projeto comissionado pela 1* Bienal das Amazônias. A Ação consiste em um site specific realizado no Forte do Presépio, local histórico e que marca o berço da cidade de Belém. Essa construção fruto nosso passado carrega camadas profundas desse Brasil colonial, cheio de contradições, violências e projetos de apagamentos fundados por mitos de origem. O Museu do Encontro, por exemplo, carrega em seu nome a ideia romântica de um encontro pacífico entre os povos originários e os invasores europeus, mitos fundadores que ainda servem para a manutenção de um projeto violento de esquecimento. É urgente “reflorestar” o imaginário das amazônias, desmistificar essa ideia de “Encontro” e produzir conhecimentos capazes de criar novos horizontes para além desse projeto de apagamento que persiste desde 1500.
O Site Specific “Reflorestar o Imaginário” propos o plantio de 7 “árvorespoemas” mudas de árvores nativas do território brasileiro que carregam poemas em forma de Bandeiras. As Frases Hasteadas nas mudas de replantio refletem a temática através da percepção poética do artista, dialogando com o Local e possuindo contato direto com o público visitante. O caminho dos rios das bacias hidrográficas que banham o Brasil e os países vizinhos são elementos importantes que complementam imageticamente as poesias estampadas e que nos convida a entender os veios do rios como fios constantes de memória. As obras plantadas ao ar livre denunciam um olhar crítico sobre o passado mítico Brasileiro e evidenciam a importância do conhecimento ancestral e da preservação das florestas como parte essencial dessa ancestralidade. Um das Bandeiras-poemas é a obra : Reflorestar nossa Gente em dupla face, frente e verso:

Bienal das Amazônias, 2023/2024



Bienal das Amazônias, 2023/2024


Bordado dupla face sobre tecido Oxford Edição: 5 90 x 128 cm 2023
